Há vários anos, eu me dei conta de que eu estava rodeada de pessoas que não se importavam comigo. Ou, pelo menos, não de verdade. Amigos — entre aspas — que estavam presentes apenas em momentos convenientes e que sumiam do mapa de tempos em tempos, fazendo eu correr atrás para tentar manter a amizade em dia. Amigos que me perguntavam “tudo bem?” diariamente, mas não estavam interessados na minha resposta sincera. Amigos que me ofereciam desculpas esfarrapadas para não estarem comigo em momentos importantes (ou difíceis) da minha vida. Amigos que só queriam falar, falar, falar e não ouviam absolutamente nada. Ou, ainda, amigos que sequer lembravam do meu aniversário.
Depois de quebrar a cara muitas vezes e cansar de tentar consertar algo que não tinha reparo, eu decidi que ficaria melhor sem ter me preocupar com esse tipo de amizade unilateral, que sugava toda a minha energia e não me beneficiava em nada. Foi uma decisão difícil, mas a única que fazia sentido para mim.
Aos poucos, eu fui recuando. Deixei de responder uma mensagem aqui, uma ligação ali, um convite para sair acolá e permiti que a distância aumentasse naturalmente. Saí de cena da vida de muitas pessoas e nenhuma delas insistiu para que eu voltasse. Foi um processo longo e complicado, principalmente porque, ao final da caminhada, não sobraram muitas “amizades” para contar história. Para os poucos que restaram, eu procurei estar mais presente na medida certa, sem forçar uma relação que não fosse honesta para os dois lados. Nada mais justo, certo?
Como resultado desta minha resolução, eu comecei a passar muito tempo sozinha. Todos os meus planos eram confeccionados em versão solo: eu e mais ninguém. Eu aprendi a não depender de outras pessoas para aproveitar a minha vida e me sentir autossuficiente para fazer qualquer atividade. Ir sozinha ao cinema, jantares, eventos, shows, passeios, viagens e tudo em que eu estivesse interessada. Eu passei a gostar da minha própria companhia e a valorizar a pessoa que eu sou. Amiga, leal, honesta, sincera, um tanto chata, que incomoda até dizer chega e beeeem sarcástica, mas que vira o mundo de ponta-cabeça para colocar um sorriso no rosto de alguém quando ela mais precisa. Alguém que se interessa, ouve, ajuda, aconselha, compartilha, chora e ri junto e está lá para todos os momentos.
Infelizmente, algumas ações têm um lado negativo. Por conta dessas experiências negativas que vivi no passado, eu me tornei mais cautelosa em relação a amizades e relacionamentos. Até hoje, eu demoro a confiar nas pessoas e me abrir para uma relação mais intensa e duradoura. Eu mantenho sempre um pé atrás, preparando-me para um tropeço ou um possível tombo. Quando isso eventualmente acontece, eu já estou com os dois pés firmes no chão e pronta para seguir adiante.
Acredito que este seja um dos motivos pelo qual eu — inconscientemente — boicoto todos os meus relacionamentos amorosos. De todos os homens do mundo para escolher, eu sempre me apaixono pelos os que não estão disponíveis ou que, definitivamente, não estão interessados em mim. Que triste! Pode ser apenas coincidência, mas às vezes me parece ser uma situação segura e confortável, onde eu não preciso derrubar minhas defesas e me colocar numa posição vulnerável novamente. Isso também explica a minha propensão por amores platônicos e impossíveis de acontecer, que são previsíveis e doem menos.
Por um lado, eu sei que ter me fechado dentro da minha bolha é uma coisa ruim. Mas, querendo ou não, eu me tornei mais forte também. Eu sou totalmente independente e não preciso de ninguém para me empurrar para frente, pois a motivação sempre vem de dentro de mim mesma. Ter pessoas por perto é revigorante, mas eu sei que eu não vou quebrar se todas elas seguirem caminhos diferentes do meu.
Eu sempre achei que minha jornada seria mais interessante com alguém do meu lado, mas a vida me mostrou que pessoas vêm e vão e que eu não preciso ficar estagnada em um único lugar, com medo de me sentir sozinha. Meus momentos de silêncio são os mais esclarecedores e são eles que me mantêm sã e correndo atrás dos meus sonhos e mais profundos desejos. Sei que minha vida pegou um atalho estreito e sem muito espaço para coadjuvantes, mas o destino final me soa extremamente promissor e estou certa de que virá cheio de novas relações valiosas e recompensantes.
2 Comments
oiê!
Fê, acho que estamos no mesmo barco. andei pensando sobre as minhas amizades e percebi que a maioria não se preocupa de fato com o que se passa comigo, quer apenas ter um ombro pra desabafar e só. se afastar é a melhor coisa, e é isso que to fazendo!
realmente a gente vai se tornando uma pessoa mais dura, porém, estabilizada. a gente começa a enxergar a malicia nas pessoas… a ser mais esperto! :)
espero, de verdade, que aos poucos tudo entre nos trilhos pra mim e pessoas legais surjam na nossa vida. e, ó, a própria companhia se bastar é sinal de evolução. muita gente queria não depender dos outros pra fazer qualquer coisa. ;)
bjs!
Nesses últimos tempos eu tenho pensado muito sobre amizade e quem realmente está ao meu lado. Já me meti em brigas e me afastei de pessoas que eu considerava muito por outras que eu achava que realmente eram minhas amigas pra no fundo eu me ver sendo trocada por um grupo que tem as mesmas ideias e vontades que elas. Vira e mexe preciso de alguém pra me ajudar com algo e nada. Ninguém que eu possa contar.
Mas isso vem me dando mais autoconfiança de fazer certas coisas sozinha. Deu problema no carro? Vou eu mesma arrumar. Sair sozinha nunca foi problema pra mim, mas tem horas que eu realmente preciso de alguém.
Amei seu texto
;*