Eu quero guardar aquele momento para sempre. Ontem, relembrando algumas cenas daquele dia, fiquei com os olhos cheios de lágrimas, que eventualmente caíram pelo meu rosto, como muitas vezes aconteceu nos últimos meses. Me lembro das roupas que estávamos usando, de cada palavra trocada, de como o tempo passou voando aquela noite e de como eu sinto saudade de nós dois daquela época. Fico com o coração apertado só de pensar que não existe mais um “nós dois” agora, infelizmente.

Talvez você não lembre detalhes daquela noite, mas eu posso te relembrar todos eles… Eu posso te ajudar a lembrar tudo o que já vivemos, cada momento nosso, cada discussão boba, cada conversa séria, tudo o que você já me disse… Não sei se vou conseguir arrancar tudo isso de mim algum dia, mas até hoje me lembro de cada momento nosso com muito carinho. Não guardo mágoas do que deu errado, mas sim cada sorriso seu em minha direção, cada abraço apertado que trocamos, cada gesto de zelo entre nós dois e como sempre podíamos contar um com o outro. Nunca vou me esquecer de como você fazia eu me sentir ou de como, sem planejar, eu pude passar algumas horas ao teu lado naquela noite, me sentindo a pessoa mais feliz do mundo.

Era um dia quente, mas uma leve brisa aliviava o calor abafado e dava lugar a mais uma noite agradável de verão. Saí de casa nervosa, não sabendo o que esperar daquele encontro, e peguei o caminho que faria eu demorar mais tempo para chegar ao local combinado. Resolvi caminhar até a beira da praia e olhar o mar, enquanto pensava em mil e uma maneiras de dizer “oi” sem parecer eufórica. Andava com a cabeça baixa, olhando para os dedos do pé, na minha sandália rasteira de cor ouro velho, com as duas mãos atarracadas nos bolsos da minha saia branca, que escorregavam do meu quadril conforme eu forçava os punhos cerrados para baixo a cada passo que me aproximava do destino final.

Você chegou em seguida, com um sorriso lindo no rosto e com a camiseta que eu escolhi a dedo apenas alguns dias antes. Eu não soube o que dizer de cara, mas a vantagem é que tudo era fácil contigo. Você sempre fez eu me sentir à vontade ao seu lado, de forma que qualquer silêncio entre nós nunca seria constrangedor. At all. Sorri baixinho quando olhei para os seus pés e lembrei que eu não me importava que não fossem os chinelos certos, contanto que eles estivessem grudados em ti e perto de mim. Eu não reparei na bermuda nova naquela ocasião, mas isso não te dá o direito de dizer que “eu não reparo em ti”, porque você sabe que não é verdade. E como que você queria que eu olhasse para a sua bermuda se eu não conseguia tirar os meus olhos dos seus?

Conversamos por horas e aquilo era tão simples para nós. Emendamos um assunto no outro e dividíamos opiniões sempre muito parecidas, além das confidências que arrancávamos um do outro, quase que naturalmente… Você já parou para pensar que o motivo pelo qual sempre nos demos tão bem era o fato de que tínhamos liberdade para falar sobre qualquer assunto, sem ter medo, vergonha ou qualquer expectativa de ser mal interpretado? Eu te ouvia, você me ouvia e tudo fazia sentido quando o outro parecia entender perfeitamente o que estávamos falando. Mesmo que tivéssemos opiniões opostas. Não importava, nunca importou.

Os ponteiros do relógio voaram e a nossa noite estava chegando ao fim. Tentei enrolar e prolongar a conversa, mas sabia que logo teríamos que dar tchau. Fomos até a esquina do supermercado juntos e nos despedimos. Sempre me fez o sorrir o jeito como você encaixava um “se cuida” depois do “a gente se vê” nestes momentos. Naquela noite não cabia usar o “drive safe” como de costume, tão pouco eu responder um “I will”, pois eu estava a pé, para variar. Caminhei devagar, pensativa, querendo voltar o tempo e aproveitar um pouco mais de nós… Um pouco mais de você, do seu sorriso, da sua risada gostosa e do seu jeito de debochar de mim ou de me cutucar enquanto estamos conversando.

Pensei sobre a camiseta que eu te dei de presente, sobre os chinelos nos seus pés, sobre a bermuda nova que você ganhou da sua mãe, sobre como estava gostoso aquele crepe, sobre a latinha de Fanta Laranja que dividimos, sobre o dinheiro que caiu do meu bolso e que seus tios me alertaram, sobre como você não me apresentou para ninguém, sobre o seu pai brincando com o gatinho Tom no celular, sobre a sua mãe dizendo que ia comer “gordices”, sobre o assunto do seu primo mudar para a sua casa, sobre o como eu sabia que meu cabelo estava todo bagunçado por causa do vento e estivesse com medo que você estivesse pensando a mesma coisa, sobre como nossas pernas se encostaram quando estávamos sentados lado a lado, sobre a conversa a respeito de nossos melhores amigos, sobre a nossa mania de dar tapas na coxa um do outro quando queríamos chamar a atenção para algo qualquer, sobre como aquela foi a melhor noite do meu verão…

Segui andando de cabeça baixa pela rua, me controlando para não olhar para trás para dar uma última espiadela em você. Não sabia se sorria ou se me lamentava por aquela noite ter acabado, mas sabia que tinha valido a pena. Cheguei em casa pensando que não havia dúvidas de que eu era a pessoa certa pra você, mas não importasse quão grande fosse o meu amor, aqueles definitivamente eram os chinelos errados… Mas tudo bem por mim.

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Escrever é uma das minhas maiores paixões. Por aqui, eu falo um pouco das coisas que se passam pela minha cabeça, uma mistura de temas pessoais, reflexões sobre a vida e estórias fictícias. Sou gaúcha, moro em Toronto e trabalho como designer visual há mais de 15 anos. Mãe da Lica, a beagle mais linda desse mundo. Amante de música, livros, filmes, shows e tudo relacionado a Coréia do Sul. <3

9 Comments

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    Lindo e de uma sensibilidade enorme!
    Triste também…

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    Olá miga, tudo bem?
    Gostei da foto do post =) o texto é triste mas é lindo =) gostei!
    Bjs!

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    Valeu pelas lembranças.. afinal só é fechar os olhos e a gente consegue viver tudo aquilo de novo né?!
    Post muito lindo, beijo! :*

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    Lindo, Fê!!!! Escreve um livro!!!!!!!!

    Beijinhos

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    Ai nem me fale, ninguém merece mesmo trabalhar assimm ;x
    posso confessar? eu tive que dar um tempo antes de comentar, acabei derrubando uma lágrima, a forma como você escreveu me encantou *–*
    Um amor de verão muito lindo afinal, é tão bom quando essas coisas acontecem que quando a gente lembra, a gente acaba soltando uma risadinha boaa né?!
    Nao fique triste, lembre que foi um bom momento e quem sabe pode ter mais ;)

    Boa sexta, beijos :*

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    Me derreti toda com esse texto. Me lembrou muito de muitas coisas que já aconteceram comigo, mas que vão ficar só na lembrança… não como os chinelos errados, mas como a hora errada mesmo… infelizmente.

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    Se quando eu comecei a ler esse post estava escutando uma música agitada e mudei para uma música romântica asoaksalsalsalsola
    Muito lindoo o post!!!

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    Mas é procurando que um dia a gente encontra o par do nosso chinelo, a pessoa certa… É tentando e insistindo em ser feiz que a gente uma encontrará a forma correta de lidar com algumas situações da nossa vida!

    Me senti em cada linha descrita porque um dia eu também fiz a mesma coisa, mas diferente da história, eu não abaixei minha cabeça mesmo quando estava andando sozinho, sempre andei com a mesma erguida e convicto do que eu queria pra mim e quem eu queria/quero ao meu lado.

    A história não é ruim, longe disse, mas essa sensação de novamente perder o amor é!

    Já disse que adoro esses seus textos “fícticios”, né?!

    Bjs!

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