Ela abriu os olhos devagar e lá estava aquele par de olhos verdes que sempre a fazia perder a linha de raciocínio e abrir um sorriso do tamanho do mundo. Ele estava sério, quase como hipnotizado. Os olhos semicerrados dele diziam tudo o que ela esperava ouvir pelos últimos meses. Era uma mistura de desejo, realização, excitação e carinho autêntico. Ela sentia o mesmo e esperava que isso também estivesse estampado em seu próprio rosto.

Mesmo depois de alguns segundos sem tocar os lábios dele, ela ainda sentia um fogo subir por sua espinha, arrepiando todos os pelos do seu corpo e deixando um rastro de tesão por toda a extensão de suas costas. Por quanto tempo ela esperou por este momento? Por quantas noites desejou estar nos braços dele? Por quantas vezes indagou se ele teria gosto de menta, caramelo ou café? Hoje ela sabia. Caramelo.

Eles não se conheciam há muito tempo, mas a sintonia entre os dois era palpável. Ele finalmente havia se rendido aos sentimentos que o faziam querer arrancar o coração de dentro do peito. Ele era do tipo introvertido, reservado e que não apostava muitas fichas no jogo do amor. Por outro lado, ela era carismática e cheia de energia.

Ela estava completamente apaixonada. Era óbvio. Todas as suas conversas com ele deixavam isso muito claro e ela não conseguiria esconder o que sentia mesmo que quisesse. Ele, um tanto desligado, demorou a perceber o que estava acontecendo e sempre deixava uma distância segura entre os dois. Entretanto, ao mesmo tempo em que ele tentava se manter longe, os seus olhos a procuravam por todos os lados e a observavam enquanto ela não estava olhando. A distância estava diminuindo a cada dia. Era uma questão de tempo.

Na semana anterior, ela tomou coragem para dizer a ele, com todas as palavras, que o queria em sua vida e que não iria desistir dele tão facilmente. Sem saber o que fazer, ele falou que precisava pensar. Queria colocar a cabeça no lugar antes de decidir qualquer coisa. No entanto, ele já sabia que não conseguiria resistir àquela vontade por muito tempo.

Nos seus mais secretos pensamentos, ele queria tocá-la, queria sentir o perfume dos cabelos dela entrando em suas narinas e ouvir a voz dela murmurando o seu nome. Ele queria guardar o som da risada dela em si mesmo e estar perto o suficiente para não conseguir distinguir onde terminava a sua pele e onde começava a dela.

Ele precisou de alguns dias para aceitar que estava pronto para embarcar naquela aventura e abrir o seu coração finalmente. Na verdade, ele tinha medo de se machucar, mas ele jamais contaria isso a ela. “Ela não precisa saber o tamanho dos meus sentimentos”, pensou consigo mesmo. Era grande. Muito grande. Ele estava convencido.

Assim que ele se sentiu seguro de que era a coisa certa a fazer, foi apenas um pulo para chegar nela e despejar tudo o que sentia. Um beijo inesperado. Intenso. Mágico.

“Eu acho que isso explica melhor do que palavras”, disse ele baixinho, correndo os lábios pela bochecha dela e pousando o nariz em sua testa, por entre os fios de sua franja.

Ela não soube o que responder e só ficou parada, tentando consertar o ritmo da sua respiração. À sua frente, ela enxergava o peito dele subindo e descendo rápido. O cheiro do perfume dele a deixava tonta e com os joelhos fracos. “Eu devo estar sonhando”, ponderou.

Os dedos dele continuavam por entre os cabelos dela, que estavam soltos e caíam em torno do seu rosto. Em um movimento suave, ele escorregou as mãos até o queixo dela e ergueu o seu rosto para cima. Ao acariciar a pele com textura de pêssego, olhando no fundo dos olhos dela, ele deixou escapar um sorriso tímido.

Ela deixou escapar algumas batidas do seu próprio coração.

Ele também estava ofegante e, apesar de ter sido um passo arriscado, tinha valido a pena. Ele precisava agir rápido e não dar chances para o arrependimento tardio. O dele, não o dela. Ele sabia exatamente o que estava sentindo. E agora, ela também.

Ela notou os lábios dele se partindo novamente e segurou a respiração. Ele deu um passo à frente e fechou o vão entre os dois mais uma vez. Sentir o corpo dele tão próximo ao seu lhe dava a sensação de estar andando de montanha-russa. Calafrios de prazer seguidos por suspiros de êxtase e alívio. Era tudo tão perfeito, tão surreal.

As mãos dela subiram para os cabelos dele automaticamente, como se aquilo já fosse algo corriqueiro. Em resposta, ele a apertou pela cintura com mais força e acelerou a velocidade do beijo. Quando os lábios dele tocaram a sua nuca, ela perdeu o equilíbrio por alguns instantes e precisou firmar o seu corpo contra o dele. Ele gemeu de leve.

O beijo insuperável. Ela ainda estava sem fôlego.

Ela abriu os olhos devagar e notou os primeiros raios de sol do dia entrarem pelas frestas da janela do seu quarto. Depois de recolher a pequena caixa de papelão e os lenços amassados que estavam espalhados pela cama, ela saiu debaixo do cobertor e se arrastou para fora da cama para começar mais um dia sem ele.

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Escrever é uma das minhas maiores paixões. Por aqui, eu falo um pouco das coisas que se passam pela minha cabeça, uma mistura de temas pessoais, reflexões sobre a vida e estórias fictícias. Sou gaúcha, moro em Toronto e trabalho como designer visual há mais de 15 anos. Mãe da Lica, a beagle mais linda desse mundo. Amante de música, livros, filmes, shows e tudo relacionado a Coréia do Sul. <3

5 Comments

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    oie!

    queria tanto não ter me identificado com o conto, mas o sentimento por aqui é quase esse. na vdd, me recuperando de algo parecido. de expectativas frustradas que deixaram uma dor.

    graçadels existe sempre um novo dia pra gnt recomeçar e buscar a felicidade plena, né?

    amei muito o conto. tava com sdds de ler seus escritos. <3

    bj!

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    Conheci seu blog agora e já gostei muito de seus contos, da forma como escreve! Parabéns!!

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    Adorei o conto! Muito bom mesmo. O que a saudade não faz, não é mesmo?

    Que bom que retornou com o blog!

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está no ar com muitos posts e novidades! Não deixe de conferir!

    Jovem Jornalista
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    Até mais, Emerson Garcia

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    Quem nunca sofreu por amor que atire a primeira pedra, né?
    Lindo o conto, Fê!

    Aliás, quando você volta para o blog?
    Estou com saudades!

    Beijos,

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    Oi, Fê!

    Continua escrevendo mais contos. Este está muito bonito e intenso.

    Bjs!!

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