A porta se abriu e eu prendi a minha respiração. Não importa quantas vezes isso já tenha acontecido comigo, a minha reação era sempre a mesma. Senti minhas bochechas queimarem de vergonha e mantive a cabeça abaixada, gritando silenciosamente para me tornar invisível e fingir não estar sentada ali.
O meu pedido de socorro não foi recebido em lugar algum, já que ele caminhou até a minha frente e parou do outro lado da mesa, enquanto dava bom dia para todos que estavam na sala. Mesmo sem olhar, eu senti o olhar dele mirado em mim por alguns instantes e respirei fundo antes de reunir coragem suficiente para levantar a cabeça e encontrar os olhos dele.
Com uma breve faísca, nossos lábios espelharam um sorriso tímido ao mesmo tempo e eu senti meu estômago virar cambalhotas. O impacto da presença dele perto de mim era gigantesco. Cada movimento do meu corpo se tornava consciente e calculado, cada palavra emitida pela minha boca era revisada inúmeras vezes antes de ecoar pelo ar. Por mais que eu tentasse ser natural, ele tinha o poder de me transformar em um robô. Um robô com batimentos acelerados no meio do peito.
Com o canto dos olhos, eu tentava capturar vislumbres dele a cada cinco minutos. Quando a voz dele batia nos meus ouvidos, era difícil manter a minha expressão intacta. Eu queria sorrir, eu queria suspirar de alegria. Mesmo assim, eu continuei escondida atrás da máscara que protegia o meu coração de ser despedaçado mais uma vez. Enquanto eu continuasse por trás das paredes da minha muralha, ele não podia me machucar. Eu estava a salvo.
Momentos mais tarde, sem querer, nossos passos nos levaram para o mesmo local. O encontro que não poderia ser evitado, porque ele estava me encarando intensamente enquanto caminhava, apesar de ter uma expressão leve e casual no rosto, obrigando-me a parar e trocar algumas palavras com ele. Foi difícil encontrar frases que fizessem sentido. Minha fala saiu cortada e confusa, ao mesmo tempo que minha voz tentava esconder sem sucesso o trêmulo que meu corpo inteiro estava sentindo.
Será que ele faz ideia do quanto ele mexe comigo? Será que ele sabe o terremoto que provoca quando está assim tão perto de mim? Minha mente divagou por alguns instantes, mas meus olhos continuaram a registrar o sorriso dele, agora queimado na minha retina para sempre. Enquanto eu girava o meu corpo para continuar o meu percurso, ele se reposicionava novamente para ficar de frente para mim. Eu queria fugir e retomar o meu controle emocional, mas ele estava fazendo de tudo para me manter ali. Com ele.
Quando a conversa estava chegando ao fim, meus olhos bateram nas mãos dele. Um arrepio na nuca me fez lembrar que eu não podia tocá-lo naquele momento, por mais que eu desejasse que os meus dedos estivessem entrelaçados com os dele. Só este pensamento deixou a minha respiração ofegante, incerta. Subi minha visão para o rosto dele e notei que ele estava me olhando com os olhos cerrados, exibindo uma expressão confusa e um tanto dolorosa. Sorri, tentando disfarçar meu nervosismo.
Dei um passo para trás e virei nos calcanhares para dar por encerrada aquela conversa. Soltei um suspiro curto e fechei os olhos para tentar voltar a mim. Poucos metros à frente, eu senti a mão dele se fechar em volta do meu pulso e meu coração parou de bater por alguns segundos. O perfume dele correu pelas minhas narinas e, quando eu consegui abrir meus olhos novamente, eu já estava enrolada nos braços dele. Respirei fundo e ouvi o barulho da minha muralha sendo derrubada por completo em poucos segundos.
Com os joelhos mole, eu ouvi a voz dele tocar de leve o meu ouvido. “Onde você pensa que vai?”, ele disse com um sorriso suave nos lábios. A resposta veio imediatamente, sem precisar pensar duas vezes. Eu não vou a lugar algum, eu quero ficar aqui para sempre. Nenhum som escapou de mim, mas ele confirmou ter recebido a minha resposta com um aceno de cabeça assim que eu fechei os meus punhos em um movimento rápido, segurando a camisa xadrez dele com força e o trazendo para o mais perto de mim possível.