Eram cinco e meia da tarde. Estava na hora de eu ir embora. Juntei minhas coisas, peguei minha bolsa e desci para falar com ele. Passei o dia inteiro evitando aquele momento, mas a verdade é que eu só conseguiria seguir minha vida se tivéssemos aquela conversa.
Parei na frente dele, meio sem jeito, e perguntei se ele poderia me acompanhar até o meu carro. Aqueles foram, talvez, os segundos mais desconfortáveis de nossas vidas. Sabíamos o que estava por vir em seguida… Meu corpo tremia de cima à baixo, sem parar, e eu desviava do olhar dele sempre que possível. Ele fazia o mesmo.
E então era isso… Teríamos a conversa que daria fim à nossa história. A história que sequer um dia começou. Eu já sabia o que ele ia falar, mas eu queria ouvir as palavras saindo da boca dele. Não tinha sido fácil para mim, não deveria ser fácil para ele também. Ele me olhou com o canto dos olhos, nervoso. Mesmo tendo facilidade para falar, ele custou a achar as palavras para iniciar aquele diálogo constrangedor. Assim que começou, chegamos ao fim.
Nunca tinha visto ele ficar tão nervoso como naquele dia. Ele gesticulava enfaticamente, mais do que de costume, tentando argumentar com precisão e explicando da melhor forma possível tudo o que sentia, pensava e significava para ele. Eu sabia que estava sendo difícil… Ele tentou se esquivar de alguns assuntos, mas eu precisava que ele me falasse tudo. Então, insisti.
Meus olhos se enchiam de lágrimas a cada frase… Era muito mais difícil escutar do que imaginar aquelas mesmas ideias na minha cabeça. Mas eu não tinha expectativas diferentes, ele seguiu o mesmo roteiro que eu já havia elaborado mentalmente. Ele me dizendo “não”, eu me sentindo inconsolável e meu coração estraçalhado no chão. Doeu tanto, doeu demais.
Ele abriu os braços para um último abraço e eu senti um nó se fechando em minha garganta. Eu tentei segurar algumas lágrimas de escorrem pelo meu rosto, mas era muito difícil conter tanta angústia dentro do peito. Eu o segurei forte por alguns segundos, mas eu senti que estava sendo um incômodo para ele. E então o soltei… Ele me deu tchau, atrapalhado, e eu sabia que não era uma simples despedida. Era o fim de nós.
Quando ele virou de costas e foi embora, eu desabei. Eu tinha vontade de gritar, sair correndo e nunca mais voltar. Quando eu fechei a porta do carro, chorei muito. Não me importei se alguém em volta conseguia me enxergar no banco da frente do carro, soluçando… Eu não me importava com mais nada. Nada mesmo.
Finais são sempre tristes. Perdê-lo, daquela forma, foi ainda pior. Eu sabia que não veria mais aqueles olhos, não apreciaria mais aquele sorriso, não sentiria mais aquelas mãos na minha pele. Eu já estava com saudade de ouvir aquela voz, que tinha o dom de me acalmar… Saber que tudo seria diferente dali adiante era o mesmo que enterrar uma faca em meu peito e a deixar lá para sempre… Sangrando.
Eu não teria outra opção senão me afastar de tudo aquilo. Foi o que eu fiz. É o que faço até hoje. É o que continuarei fazendo, até conseguir arrancá-lo de mim definitivamente. Arrancar de mim todas as cenas em que o imaginei ao meu lado, para o resto da minha vida.