Ele apoiou as duas mãos em cima da minha mesa e me fitou fixamente. Continuei mexendo no computador, ignorando sua presença, porque eu estava muito nervosa para olhar de volta para aquele rosto. Espiei com o canto dos olhos os seus dedos levemente dobrados, apoiados na superfície lisa, e as veias saltadas de cima das suas mãos, o que me deixava um tanto aflita. Engoli em seco e fechei os olhos. Coragem, vamos lá. Coragem.
— Qual o motivo dos olhares? — ele disparou, antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa para dizer.
— Olhares? — indaguei.
— Sim, os que você não para de lançar em minha direção. O tempo todo.
Eu não tinha um espelho por perto, mas sabia que minhas bochechas estavam coradas. Hm, então ele reparou nos olhares? É sinal de que ele também está olhando. E, bom, se ele reparou que não são simples olhares, é porque ele realmente estava prestando atenção.
— Desculpa. Eu não tinha a intenção de te perturbar. De forma alguma — expliquei.
— Não está perturbando. Eu só quero saber o motivo.
Lancei meus olhos para cima e encontrei os olhos dele, curiosos. Ele estava com uma expressão séria, mas eu conseguia distinguir um meio sorriso por baixo daquela barba rala, que cobria as linhas quadradas do seu maxilar e do seu queixo proeminente. Os olhos castanhos me fitaram de volta e eu não consegui evitar um sorriso.
— Eu só estava olhando. Não sabia que eu precisava ter segundas intenções para simplesmente olhar.
— Provavelmente tem, se me olha desse jeito.
Gelei de cima à baixo. Eu nunca tinha visto ele sendo tão direto assim, tão ousado. Ele era o tipo de cara que estava sempre tranquilo, na dele, sem chamar muito a atenção. Devo acrescentar que “ser lindo” também estava em sua lista de atributos, mas ele não precisa saber dessa informação. Eu gosto que ele não tenha noção do quanto se destaca em relação aos outros, com a sua beleza modesta e sua simpatia encantadora.
— Desculpa, então. Prometo que não olharei mais dessa forma. Não olharei mais para você.
Ele se abaixou e sentou em cima dos calcanhares, para ficar com o rosto na mesma altura do meu. Ele já não estava mais tão sério e eu podia sentir que ele estava gostando daquela conversa, divertindo-se com a minha falta de jeito e timidez. Ou melhor ainda, divertindo-se por não estar sendo tão tímido, talvez pela primeira vez, ao me falar tudo aquilo.
— Acho que você não está entendendo… Eu não quero que você pare de me olhar desse jeito. Eu só quero entender. — Ele levantou as sobrancelhas e deixou escapar um sorriso provocador. Acho que ele já tinha percebido o efeito que aquilo tinha sobre mim. Macacos me mordam.
— Entender o quê?
— Eu só quero saber se estou interpretando corretamente tudo isso. Esses olhares, esses sorrisos, os arrepios.
Arrepios? Antes que eu pudesse pensar qualquer coisa, olhei para meu braço esquerdo estendido ao lado do teclado do computador e entendi o que ele estava falando. Meus pelos estavam eriçados e a pele extremamente arrepiada; as bolinhas tomando conta de todos os centímetros do meu membro. Soltei um suspiro rápido e balancei a cabeça para os lados, aceitando que aquilo era o mais óbvio a acontecer. Ele mexia comigo. Demais.
— Se você não está interpretando certo, provavelmente eu não estou olhando direito — falei com convicção.
— Então eu estou certo?
— Não está mais do que óbvio? — falei, rindo baixinho.
Não havia mais nada o que explicar. Ele sabia o que eu sentia; ele viu como eu me sentia quando ele estava perto. E eu sabia que ele estava interessado também, ou não teria vindo falar comigo sobre isso. Sobre os olhares. Agora era só sintonizar as ideias e esperar para ver se seríamos compatíveis. Eu sabia que sim. Mas eu queria ter certeza.
— Vem comigo pegar um café. — Ele não me perguntou; ele ordenou.
— Vai você na frente. Logo eu vou também.
Ele sorriu lindamente e então foi em direção à porta. Fiquei olhando os seus passos, analisando o jeito como seus braços se moviam e como o quadril parecia estar em sintonia perfeita com as pernas. Acima da gola da camisa, a sua nuca parecia macia e cheirosa. Antes de cruzar a porta, ele colocou a mão esquerda no bolso da calça e apertou os dedos da outra em forma de punho. Eu não estava enxergando o seu rosto, mas eu sabia que ele estava sorrindo.
Fechei os olhos rapidamente e suspirei devagar. Eu não estava acreditando em tudo aquilo, parecia bom demais para ser verdade. Passei a mão pelos olhos e depois chacoalhei os ombros. Ajeitei a gola da blusa, coloquei um pouco dos cabelos para frente e me levantei depressa da cadeira, antes que eu desistisse de ir até lá. Caminhei passos curtos pelo corredor e estudei algumas frases para iniciar a segunda parte de nossa conversa. Sentia minhas mãos tremendo, apesar de saber que era mais excitação do que nervos.
Alguns minutos depois, cheguei à cantina. Ele estava escorado ao lado da porta, perto da máquina de café. Seus dedos digitavam rapidamente algo em seu celular e ele parecia nervoso, ansioso. Parei por alguns segundos antes de me dirigir até lá e fiquei contemplando a expressão de seu rosto. Aquele rosto que tantas vezes eu observei escondida e que eu queria muito ver de perto. Bem de perto.
E então ele levantou a cabeça e encontrou os meus olhos. Os dele estavam brilhando. Os meus também. Ele sorriu e eu sorri mais ainda quando a covinha do lado direito do rosto dele apareceu. Aquilo era muito certo. Ele era muito certo para mim. E eu soube disso com toda a certeza quando eu me aproximei dele e senti os seus dedos tocando nos meus, fazendo minha pele inteira arder de prazer. A poucos centímetros de mim, os olhos dele miraram os meus intensamente e então eu soube que eu estava mesmo certa. A nuca dele era extremamente cheirosa. E os seus lábios tinham gosto de mel.
7 Comments
Só tenho uma pergunta.
Isso tá acontecendo com você?
Porque se está, se joga, porque essa coisa louca de ruborizar e arrepios não é todo dia que acontece não ;)
Beijoo
oie tamirez! o texto é pura ficção mesmo, mas não vou mentir dizendo que não foi inspirado por um certo alguém… por enquanto, é apenas platônico. mas quem sabe mais para frente, néam? beijocas =***
Olha não sabia desse seu lado….
Agora confessa pra gente: o quanto de verdade tem nesse conto?
Vai ter continuação?
hahaha! na verdade, ele é 100% ficção… tudo inventado! mas, obviamente, é inspirado em alguém… provavelmente terá uma continuação ou escreverei outros textos similares baseados nos mesmos personagens. espero que a inspiração continue… e os olhares também! #abafa
beijos
Iniciando uma campanha de oração agora pra que esses olhares continuem e tu consiga ainda mais inspiração pra fazer uma segunda parte. <3
Quando eu tava o texto, queria tanto saber onde isso aí chegar que li numa velocidade quase assustadora. (Li novamente pra não perder nenhum detalhe, ok?! Rs.).
O texto tá lindo, tá maravilho, tá perfeito, tá estilo Fernanda. Saudades dos teus contos, viu?!
Bjs.
P.s.: Quando fui lendo o texto, me lembrei da Felicity, de Arrow, e da timidez dela. =)
Eu AMO seus textos, já falei que AMO seus textos? Eu simplesmente AMO seus textos!
Arrepiei lendo, ai que saudade de sentir esse arrepio hahaha <3 Não vou perguntar se é real porque quando eu li foi real pra mim!
Que saudade de vc tb sua linda! Espero ir pro RS de novo, ou te encontrar aqui em SP :)
Te indiquei pra uma tag, espero que goste, responda quando e se tiver tempo! E não precisa ser um video não! :) Beijaaaaaaaaaaao!
Depois de ler esse post, fiquei louca para saber como continua… (mesmo sendo ficção)